Criptomoedas: a complexidade por trás de um código
As últimas décadas trouxeram inúmeras mudanças e inovações, sejam elas culturais, sociais, tecnológicas e até econômicas. E quem está atento ao mercado financeiro vê claramente essas mudanças ocorrendo constantemente. Um dos principais exemplos que ganhou grande notoriedade nos últimos anos são as criptomoedas, cujo número de investidores vem aumentando com o passar do tempo.
Esse movimento é apoiado por um atrativo audacioso: os altos lucros que essas criptomoedas podem oferecer, muitas vezes maiores que o da Ibovespa. Porém, é válido ressaltar sempre os dois lados dessa moeda, tanto o lado bom quanto o ruim desse estilo de investimento, uma vez que a alta rentabilidade tem o preço da instabilidade.
Entendendo mais sobre as criptomoedas
Primeiramente, é bom entender um pouco mais sobre esse estilo de moeda. Segundo a analogia de Fernando Ulrich, um dos especialistas no Brasil em criptomoedas e autor do livro Bitcoins, as criptomoedas farão com o seu dinheiro o mesmo que o e-mail fez com a informação, ou seja, facilitarão muito as suas transações para diferentes lugares de forma instantânea.
Essas moedas digitais possuem inúmeras peculiaridades, como a ausência de um órgão controlador, a volatilidade grande ou até mesmo sua ausência na forma física. Elas basicamente consistem em um código que tem um valor real em moedas físicas, como o dólar, por esse motivo apresentam a mesma funcionalidade que as moedas clássicas.
Portanto, podem ser utilizadas em transações de compra e venda de bens e serviços junto com a transferência de valores pela internet de forma instantânea e sem a necessidade de uma instituição financeira ou bancária e suas taxas.
Sua negociação
Além dessas diferenças, a forma de obtenção delas também diverge da forma convencional. A mais comum é por meio da compra direta com o emissor, ação conhecida como ICO¹, ou com alguém que já possua essas moedas. Isso ocorre de maneira anônima e totalmente virtual, sem intermediários (havendo a necessidade do senso de confiança mútuo entre as partes) e burocracia.
Outra forma de se obter as criptomoedas é a “mineração”, que consiste na solução de problemas matemáticos complexos. Ao serem resolvidos, são enviados para o blockchain² e, caso estejam corretos, são recompensados com essas moedas; porém, são necessários computadores com alto poder de processamento e especializados nessas funções. Ressalta-se que o armazenamento dessas moedas se dá em uma carteira virtual e é administrada em um computador ou dispositivo móvel.
¹ICO: Vem do termo em inglês “Initial Coin Offering” e é caracterizada como uma oferta pública de venda de uma criptomoeda, se assemelhando ao IPO (Initial Public Offering). Ela é comumente utilizada para a obtenção de recursos para projetos, uma vez que não possuem tanta burocracia e possibilitam uma maior segurança e praticidade ao se comparar com as formas tradicionais de obtenção de recursos. O processo se distribui em três grades partes: a divulgação do lançamento, arrecadação de recursos e, por fim, a distribuição dos tokens aos compradores.
²Blockchain: Conhecido como “protocolo de confiança”, é uma tecnologia baseada na descentralização como forma de segurança. Essa rede é caracterizada como um livro de registros totalmente público e compartilhado que busca obter a confiabilidade do sistema aos usuários. Quem controla essas transações são os mineradores, que resolvem os problemas matemáticos e, assim, permitem a transação e ligação de toda a rede; logo, o funcionamento do sistema de segurança das criptomoedas.
Volatilidade no preço
De forma complementar, as alterações históricas das últimas décadas também estão evidenciadas no preço dessas criptomoedas, em especial o Bitcoin, que em março de 2021 atingiu sua máxima histórica e ganhou ainda mais fama no meio dos investimentos.
Como observado, esse sucesso está ancorado na facilidade de compra por diversos perfis de investidores e na ampliação da aceitação da moeda em transações. Hoje, inúmeros sites permitem a negociação dessas moedas, como o Bitcointrader ou Foxbit. Além disso, grandes gestores de fundos e empresas estão investindo fortemente nesse segmento, a exemplo da Microsoft, IBM e da própria Tesla, que em 2021 realizou a compra de US$1,5 bi em bitcoins.
Junto a isso, a maior aceitação dos governos pelo mundo facilitou a ampliação desses investimentos, inclusive, países como Emirados Árabes, Estônia e Singapura possuem reservas ou investimentos nessas moedas digitais. Por fim, grandes empresas de serviços de pagamentos, como o Paypal, estudam possibilidades de começar a aceitar e guardar esse estilo de moeda, demonstrando a grande força que ela está tendo na atualidade, além de fomentar a continuidade da sua alta.
Demonstrando tal força, a Figura 1 mostra tanto a crescente no número de investidores em bitcoins, evidenciando assim o aumento do volume nesse estilo de investimento, quanto no valor da sua cotação em dólar.
Figura 1 – Comparativo entre o preço em dólar do Bitcoin e o número de investidores no período de Jul/17 a Jul/20.
Fonte: COINDESK, 2020
Prós e contras dessas moedas
Dentre os pontos positivos das criptomoedas estão a liberdade de pagamento, podendo enviar ou receber uma quantia de forma instantânea em qualquer lugar, a presença de baixas taxas — como não há intermediadores na transação, também não há taxas diretas em suas transações — e a transparência das negociações, mesmo que elas sejam sem lastros, ou seja, não têm a identificação do vendedor ou do comprador, existe uma transparência nas demais informações que são gravadas no blockchain.
Existem, por outro lado, alguns contras, sendo os principais: o grau de aceitação limitado, pois muitas empresas e lojas ainda não aceitam o pagamento utilizando esse estilo de moedas, a volatilidade — ajustes constantes e o aumento de investidores permitem a alta volatilidade dessas moedas — e a forma de armazenamento, visto que, caso perca ou apague a chave de acesso, o usuário perderá esse dinheiro.
Outras criptomoedas
Embora o Bitcoin seja a criptomoeda mais conhecida, é importante salientar que existem inúmeras outras criptomoedas, dezenas delas, cada uma com suas características e estilos bem definidos. Abaixo serão exemplificadas as 5 criptomoedas com maior liquidez de acordo com o ranking da bravenewcoins.com de 2020 (Figura 2):
- Bitcoin: É considerada por muitos a primeira moeda digital descentralizada do mundo. Foi apresentada por um programador com o vulgo Satoshi Nakamoto em 2008, e manifestou o maior “market cap” de 2020.
- Ethereum: Foi apresentada por Vitalik Buterin em 2014 e teve como intuito financiar um projeto de crowdfunding. Como ponto relevante cabe citar que apresentou o segundo maior “market cap” de 2020.
- Tether – É uma stablecoin (criptomoeda com lastro em uma moeda física) lançada em 2014 com uma proposta de paridade com o dólar dos Estados Unidos; porém, em 2019 foi notificado que nem todos o Tether tem lastro. Em 2020, teve o terceiro maior “market cap”.
- XRP – Também conhecido como Ripple, é um pouco diferente das outras criptomoedas tradicionais, pois traduz tanto uma moeda digital quanto uma rede de pagamento aberta, com menores taxas e atrasos de processamento. Ressalta-se que teve o quarto maior “market cap” de 2020.
- Chainlink – Desenvolvida por Sergey Nazarov em 2017, é constituído por uma plataforma que busca facilitar os contratos inteligentes entre diferentes plataformas, obtendo o quinto maior “market cap” de 2020.
Figura 2 – Ranking representativo das cinco principais moedas digitais com relação ao market cap (preços em dólar) em 30 de agosto de 2020.
Fonte: BRAVE NEW COIN, 2020.
Concluindo
A análise da conjuntura permite inferir que esse tipo de investimento não é recomendado para todos os perfis de investidores, sendo mais aconselhável para investidores agressivos que estejam acostumados com altas volatilidades ou pessoas com pensamentos economicamente liberais, pois apenas você controla o seu dinheiro, não tendo influência de bancos ou Estados.
Todavia, observa-se que a cada dia o número de compradores das criptomoedas vem aumentando, inclusive investidores com pouco conhecimento sobre seu funcionamento. O crescimento de sua importância no cenário global mostra-se preocupante quando esse ponto é analisado devido ao aumento ainda maior da volatilidade desse investimento.
Sendo assim, é importante ampliar o acesso ao conhecimento sobre criptomoedas para evitar decepções e grandes prejuízos caso busque essa forma de investimento.
* É válido destacar que esse artigo não é uma recomendação.
Referências
BRAVE NEW COIN. As 10 principais criptomoedas: o que mudou nos últimos sete anos? Disponível em: <https://www.moneytimes.com.br/as-10-principais-criptomoedas-o-que-mudou-nos-ultimos-sete-anos/>. Acesso em: 1 fev. 2021.
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